quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quando política era mitologia

Todos os problemas da sociedade moderna começaram com os Deuses da mitologia grega. Não estou exagerando, é sério. A compra de votos, por exemplo, nada mais é do que uma prática milenar inventada por três das mais lindas Deusas. Tudo começou quando a Deusa da Discórdia deixou de ser convidada para um casamento. Invejosa, resolveu ir escondida à cerimônia e plantou um pequeno "mimo" (um pomo de ouro) com os dizeres "à mais bela". Na festa estavam as três grandes beldades do Monte Olimpo, Hera, Atena e Afrodite, e todas queriam o agrado para si. Foram até Zeus para que ele decidisse quem era a merecedora do prêmio de "a mais bela dentre as Deusas". Mas ele, como não é bobo nem nada, não quis ser o jurado. Desceu à Terra e escolheu um pastor para julgar quem ficaria com o prêmio.

O pastor era ninguém menos que Páris, príncipe de Tróia, irmão de Heitor e filho do rei Príamo. Ele vivia como pastor porque, logo após nascer, seu pai consultara um oráculo que anunciou a queda de Tróia caso o menino vivesse. A mãe do pequeno príncipe exitou em matá-lo e o entregou a uma família de camponeses. Assim, Páris cresceu como um pastor e via-se, nesse momento, diante de quatro divindades. Zeus deixou a decisão nas mãos do pobre príncipe/pastor. O voto deveria ser sem pressão alguma, e as candidatas não poderiam falar com o jurado. Mas afinal, quem dá atenção às regras? A primeira a desobedecer foi a própria rainha do Monte Olimpo. Hera ofereceu toda a riqueza e poder que um mortal pode querer. Depois, Atena veio fazer sua proposta. Ela prometeu dar ao rapaz todo o poder de batalha e sabedoria jamais vista. Por fim, a encantadora Afrodite ofereceu o coração da mulher mais linda da Terra. A criatura mais doce e angelical que já vagou entre os humanos. Ao fim do dia, Zeus retornou. A vencedora era Afrodite.

Páris comprou briga com duas das criaturas mais poderosas da mitologia. Mas o prêmio parecia valer a pena. O coração prometido por Afrodite era da bela Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta. Alguns anos se passaram desde a decisão de Páris e a promessa da Deusa do amor. Ele, que antes era um pastor, agora já era reconhecido e abençoado por seu pai como príncipe de Tróia. E como príncipe, fora designado a uma viagem diplomática à Esparta, na companhia de seu irmão. Ao chegar, viu a bela Helena e apaixonou-se imediatamente. Ambos fugiram rumo a Tróia, enfurecendo Menelau. Com o apoio de Agamenon e Nestor, mais de mil navios foram enviados para recuperar Helena e a honra do rei espartano.

Helena foi recebida como uma verdadeira princesa troiana e protegida como tal. Os gregos tentaram de todas as formas invadir a cidade usando a força, mas falharam. A chave para vencer a guerra era usar o cérebro. Heitor foi o principal soldado troiano, mas pereceu nas mãos de Aquiles, a grande arma dos gregos. A guerra durou semanas, matou milhares de guerreiros e eternizou heróis. Helena de Tróia é vista como a principal culpada pelas sangrentas batalhas, mas poucos lembram que tudo ocorreu porque, certa vez, um humilde camponês aceitou vender seu voto.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Momento Mistério" é premiado no 23º Set Universitário

Hoje o post não é uma crônica nem uma reclamação. Sim, milagres acontecem. Simplesmente preciso escrever para expressar o quanto estou feliz. Não feliz apenas por mim, mas por fazer parte de um curso de alto nível e competência, por ter colegas realmente bons naquilo que fazem. Minha alegria se deve ao fato de termos vencido em 7 categorias no SET Universitário da PUC. E mais ainda, por ter participado indiretamente de uma delas (Uma crônica no Unicom Hábitos), e ter vencido na categoria "Programa de Rádio - Radiojornalismo", com o programa "Momento Mistério".

Preciso, antes de mais nada, fazer alguns agradecimentos. Agradecer ao Júlio Graef, que sempre dá uma luz quando estamos perdidos na produção de um áudio. Agradecer à Laura, que indiretamente me ajudou a encontrar minha pauta. Agradecer a todos que toparam me dar entrevista, com a certeza de que trataria o assunto de forma séria. E agradecer ao professor Demétrio, que me orientou no trabalho, me fez refazê-lo (por mais trabalhoso que pudesse ser), e agora, me prova que o resultado final vale todo o esforço. Um grande abraço a todos e meus sinceros agradecimentos (e caso tenha esquecido alguém, me perdoem, a memória é fraca).

Sei que toda essa conversa pode parecer besteira para alguns. Mas pra mim não é. É um orgulho muito grande estar junto com tanta gente competente e ganhar um prêmio que briguei pra conseguir. Abaixo segue o programa, espero que gostem, de verdade. E o que mais posso dizer? Tô feliz, porra! Não paro de rir sozinho. É alegria demais pra se conter.

Momento Mistério
Bloco 1


Bloco 2

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Harpia twitteira e o mundo dos pássaros azuis (o que você não viu na palestra de Bárbara Nickel)

Foi numa terça-feira que a bondosa Harpia twitteira pousou na Unisc. Ela, que vive no lugar em que o relógio marca sempre a mesma hora, viu o tempo esvair-se durante a curta manhã chuvosa, na província de "Lá onde Santa Cruz perdeu as botas". No início parecia solitária. Não conhecia o território em que havia pousado, tampouco seus inusitados habitantes. Mas logo encontrou conhecidos. O mestre-raposão foi recepcioná-la e ensinar-lhe as regras de sobrevivência naquela terra sem lei. As golfinhas também estavam por perto, para dar assistência caso a visitante precisasse. Outros seres amigáveis transitavam por ali. Um grupo de focas (velhos conhecidos da twittolândia) aguardava ansiosamente por seus ensinamentos.

Os bravos guerreiros, que já saudaram outra Harpia, no início do ano e enfrentaram o terrível Krukru há poucas semanas, tinham agora a incumbência de aprender tudo quanto possível sobre o mundo misterioso da internet (um mundo em que baleias voam, gangs coloridas se formam e informações atravessam o oceano em segundos). Não era uma tarefa fácil. Mas a Harpia twitteira fez o melhor possível para ensinar as melhores rotas a se navegar no mundo virtual aos focas, golfinhas, raposas ou qualquer outro ser presente nesse mundo místico.

Enquanto repassava seus conhecimentos, sob o olhar atento e curioso dos aventureiros, a Harpia twitteira via quatro focas transmitindo sua mensagem ao mundo da twittolândia. Foram duas horas de palavras ao vento, disseminando conhecimento pela província. Dois seres desavisados, pouco conhecedores dos perigos do mundo virtual, caíram em um sono profundo, uma pequena armadilha da rede. Ainda assim, o povo celebrou os ensinamentos da guerreira e lamentou sua partida. Ela novamente alçou voo rumo ao mundo em que reinam os pássaros azuis e onde o tempo não passa.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Papo de buteco - parte 1

Paulinho era daqueles garçons de bar de esquina. Aqueles com pano de prato no ombro, bloquinho de anotações engordurado e palito entre os dentes. Cada cliente que entrava ali já era um velho conhecido, mesmo que Paulinho nunca o tenha visto por aquelas bandas. Era o tipo carismático e risonho. Era comum ouvir dos clientes um tradicional "Paulinho! O de sempre, por favor.", seguido por uma piscadela malandra, aquela típica de freguês antigo. Na esquina da frente ficava uma redação de jornal, um prédio velho, mal pintado e com uma velha placa na frente, que lembrava os tempos áureos do periódico, que já não andava muito bem das pernas.

Cada fim de expediente do jornal significava junção de jornalistas no buteco. Era o momento do dia em que o editor parecia humano e aquele foca que quase estragou a matéria de capa deixava de ser um filho da puta. A nova estagiária não ia, infelizmente. Segundo fontes seguras (o faxineiro da garagem), ela foi vista saindo no carro do diretor do jornal. A galera do departamento comercial também comparecia, mas sentavam em mesas separadas. Eles tinham um certo receio em misturar-se aos jornalistas, coisas da profissão. Mesmo assim, o grupo da redação ocupava quatro mesas, umas 20 cadeiras e dobravam o trabalho dos atendentes. Mas o Paulinho era o único com quem os jornalistas realmente gostavam de conversar.

- Diz aí Paulinho, quem ganha o clássico hoje de noite?
- Ah, coringão vai fazer dois e dar um banho de bola.

Normalmente o garçom errava em seus palpites, mas sempre conversava com a turma da editoria de esportes como se fosse um grande entendedor do assunto. Além disso, apenas o Paulinho sabia qual a combinação de fritura com álcool mais agradava cada um deles. A galera da Geral aproveitava para ouvir as queixas do atendente, que sempre dava boas sugestões de pauta sobre ruas mal iluminadas e esburacadas. Os loucos da política e da economia, após discutirem sobre ideologias partidárias e sobre o futuro do país, perguntavam ao garçom sua opinião sobre as eleições.

- Já tem candidato Paulinho?
- Olha, ainda tô pensando. Mas acho que vou mesmo é votar em branco. Pelo menos, pelo meu voto é que esses ladrão não vão se eleger.

Sim, Paulinho é um crítico da sociedade e do sistema político brasileiro. E mais do que isso, é o principal pauteiro do jornal da outra esquina, mesmo sem saber ao certo pra quê serve um pauteiro. Após duas horas de bate-papo, os jornalistas começavam a debandar. Pautas anotadas, muita cerveja e gordura trans no organismo e sorrisos nos rostos. Pagavam as contas e iam embora. O bar ficava vazio, sem brilho ou vida. E o Paulinho, ainda com o palito entre os dentes apenas pensava com seus botões: "esse bando de jornalistas nunca me deu um centavo de gorjeta".

sábado, 18 de setembro de 2010

Minha rede é anti-social

Hoje de tarde twittei algo sobre política, por causa de candidatos que, em período eleitoral, resolvem adicionar todo o mundo em suas redes sociais. Mas penso que o assunto merece ser tratado de forma mais ampla, por isso resolvi escrever sobre isso aqui no blog. É um tal de "adiciona aqui", "adiciona ali" que não para mais. Orkut e Facebook são as principais fontes dessa prática. Mas o Twitter também tem perfis de políticos em crescimento absurdo, com a vantagem de que, mesmo que eles nos sigam, temos a opção de não segui-los. Mas o que realmente me irrita nessa prática não é o simples ato de adicionar, de poluir a interface da rede social com propaganda política. O que realmente frustra nessa história é que a maioria desses políticos não sabe usar o Orkut (ou o Facebook, ou o Twitter, ou seja qual rede for) para expressar suas propostas. Adicionam para simplesmente mostrarem seus rostos e emitirem frases constantes de "vote em fulano de tal, por um Brasil melhor", "contra burguês...", "você me conhece...", "luto pela renovação, por um país mais justo e sem corrupção".

Vamos falar sério, alguém com cérebro vai votar em um candidato apenas porque ele (ou ela) o adicionou no Orkut e fica falando coisas desse tipo? Não consigo aceitar que alguém que vai administrar nosso país não consiga, ao menos, qualificar sua rede social com propostas de verdade, com conteúdo, com algo que realmente interesse ao povo. O povo não quer receber spam de político, não quer carregar um quilo de papel por dia em panfletos, não quer ligar a TV para ouvir um candidato acusando o outro. O que o eleitor precisa conhecer, de fato, são as propostas, a ideologia, aquilo que cada candidato pensa ser o melhor para o país. Qualquer coisa além disso é informação inútil, desperdício do tempo do candidato e, principalmente, do povo.

Falar sobre política é sempre difícil, porque as opiniões são muito divergentes. Mas tomei uma decisão de 2008 (quando votei pela primeira vez) pra cá: não voto em candidato que me entregar santinho. Simplesmente porque considero um desrespeito com o meio ambiente e com o povo. Não voto em candidato que adiciona todo o mundo no Orkut e no Facebook e que segue no Twitter em época de eleição na expectativa de conquistar a simpatia. Não elejo alguém que desperdiça seu tempo de campanha criticando os adversários. E principalmente, nunca, jamais, em tempo algum, nem mesmo em meus sonhos mais loucos (parafraseando o professor Paulo Pinheiro), voto em quem faz boca de urna. Isso não é apenas uma questão moral, uma questão de desrespeito com quem vota, mas é um crime. Quem pratica boca de urna deve ser preso e seu candidato deve ser cassado. Meu pensamento é radical demais em alguns aspectos, eu sei, mas do jeito que a política no país anda, a única alternativa para modificar é um tratamento de choque.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quando não se tem o que falar

Esse é um post inútil. Ele é inspirado naqueles clássicos capítulos inúteis das obras machadianas. A verdade é que preciso escrever, e só. Não tenho um tema específico na cabeça, nem quero expor nenhuma frustração. Apenas quero escrever pela necessidade de escrever. Parece besteira, mas esse foi um comentário feito pelo escritor Daniel Galera durante a Feira do Livro, aqui em Santa Cruz do Sul. É essa necessidade de escrever que dá vida à literatura. É simplesmente uma ânsia, uma angustia que toma o peito e que cria essa vontade de se comunicar, de falar algo a alguém, mesmo sem nada para falar.

Junto com isso, vem a responsabilidade de escrever de forma criativa, de ser sempre atraente, de prender o leitor no texto. É uma tarefa desgastante e eterna. Sempre que penso nisso, me imagino daqui a alguns anos, em algum periódico de grande porte (se tudo der certo), como cronista, colunista ou seja lá o que for. Penso na pressão de escrever diariamente para 100, 200, 300 mil pessoas. Penso no quanto é difícil fazer algo diferente a cada dia e encarar o fato de que, às vezes (assim como agora), não se tem sobre o que falar, apenas uma necessidade de escrever.

O mais triste de tudo é lembrar que não é a primeira vez que escrevo sem ter nada para dizer. Os lapsos de criatividade estão mais frequentes, e nem posso culpar a idade por isso. E, falando de novo sobre "ser criativo", é um porre ter que finalizar o texto sempre de forma original, genial e atraente. Deve existir algum elixir sagrado que os grandes cronistas brasileiros bebem para ganhar inspiração. Um dia eu descubro o nome do bar onde vendem esse elixir. Daí, mando servir uma rodada de criatividade por minha conta. Ou melhor, anota na conta no jornal, por favor.

domingo, 12 de setembro de 2010

Imprensa e censura em tempos de colônia

A vida no Brasil não era nada fácil. Nas poucas cidades, gente estranha circulando. A escravidão ainda era uma prática comum e significava status. Os índios eram vistos como animais a serem domesticados e a situação do fraco comércio, bem, era fraca mesmo. O ano era 1808, e viver na colônia não era nada empolgante. Mas toda a chatice e monotonia da vida no país estava prestes a acabar.

A família real chegava ao Brasil. Sim, ao Brasil, a colônia devastada e empobrecida, de onde Portugal tirava uma boa parte de suas riquezas. Um país (que ainda não podia ser chamado de país) esquecido pelos colonizadores, mas reconhecido como o único lugar seguro para onde a família real poderia fugir do pequeno Bonaparte, um governante com complexo de inferioridade que tentava compensar sua falta de estatura conquistando outros países.

E é nesse contexto político que surgiu a imprensa no Brasil. Tá, não foi tão simples assim. Naquela época, não bastava apenas ter a ideia e colocá-la em prática. Ela devia passar pela aprovação do império. Foi quando um gaúcho chamado Hipólito José da Costa teve uma ideia. Ele queria fazer um periódico para falar sobre a vida na sociedade, informar aos pouquíssimos cidadãos alfabetizados aquilo que acontecia na colônia e em Portugal. Mas o império sabia que o Hipólito era meio rebelde. O cara não acatava tudo o que o governo dizia. Ao contrário, era questionador, meio encrenqueiro, quase um fanfarrão.

Pois o governo barrou as ideias dele E não só isso: instituiu que nenhum veículo de comunicação poderia ser criado no país, a não ser que pertencesse ao próprio governo. O Hipólito não se conformou. Esbravejou, xingou as mães de metade do império. Mas a decisão estava tomada. Então, como era um inconformado por natureza, gaúcho puro-sangue, resolveu que não queria mais saber do Brasil. Foi pra Inglaterra, terra civilizada, povo educado, primeiro mundo. Mas não passava de uma tática para enganar o governo. Ele não queria apenas morar em outro país. Tudo o que precisava era de um lugar em que pudesse escrever sobre o Brasil, imprimir seus textos e enviá-los ao país.

Assim nasceu, em 1º de junho de 1808, o Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro. O folhetim tinha o tamanho de um livro, falava sobre temas diversos como cultura, política, economia, trazia críticas e notícias. Demorava algumas semanas (cerca de dois ou três meses) para chegar ao Brasil, afinal, o Sedex ainda não havia sido inventado. O único inconveniente da publicação é que ela não era autorizada. É lógico que o primeiro jornal brasileiro só podia ser pirata. Além disso, pouca gente lia, porque pouca gente sabia ler.

Mas se o governo já via o Hipólito José com maus olhos antes da criação do Correio, imagina só o clima quando souberam da existência do jornal. Para não ficar pra trás, o governo resolveu agir imediatamente. Reuniu uma equipe competente (ou quase isso) e criou um outro jornal, esse dentro da legalidade, com apoio do governo, com puxa-saquismo e tudo o mais que se tem direito. Nasceu então, no dia 10 de setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro folhetim oficial do Brasil. As notícias eram chatas, notas sobre eventos da alta sociedade, textos exaltando o império, esses jogos de interesse que vemos até hoje em determinados periódicos. Mas, ao menos, percebia-se o primeiro interesse real do governo por algo que trazia informação à população.

É por isso que 10 de setembro é considerado o dia da imprensa, embora muitos (muitos mesmo) autores discordem da data. O Hipólito José continuou publicando o Correio por um longo tempo (até 1823), mesmo correndo o risco da censura e sabendo que teria concorrência. Alguns especuladores diziam que toda essa história de discórdia entre o gaúcho e o império não passava de joguinho de cena. Que, na verdade, eles tinham um acordo, e que só por isso os impressos de Hipólito José da Costa passavam pelas fronteiras brasileiras. Infelizmente, ele não viveu tempo suficiente para contar sua versão da história.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Cartão

Cartão_Pronto

Esse foi o presente que o pessoal da Agência A4 deu para o professor Paulo Pinheiro, em comemoração ao seu aniversário.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um pouco sobre seriados

Eu sou apaixonado por seriados. É provável que isso não seja uma novidade, afinal, sempre falo sobre essa paixão, e hoje em dia, todos que têm acesso à internet ou TV a cabo, têm uma lista de seriados que assistem religiosamente. Eu também tenho essa lista, e um HD cheio de temporadas por assistir de vários seriados diferentes. Mas o foco do post de hoje não é falar sobre nenhuma dessas séries pelas quais sou apaixonado.

Há alguns meses vi a Rede Globo anunciando uma série com uma proposta um pouco diferente daquelas que sempre lançava. A Globo é famosa pelas minisséries que lança (A muralha, A Casa das sete mulheres, Os maias, Amazônia), principalmente com enfoque histórico. Mas a proposta de "Na Forma da Lei" e de "A Cura", me transmite uma imagem um pouco diferente. Seu conteúdo e formato assemelham-se à seriados, muito mais do que à minisséries.

Meu palpite é de que a Globo percebeu o potencial que estava sendo desperdiçado em seu elenco. Além disso, já faz algum tempo que as duas principais rivais da Globo (Record e SBT) perceberam o potencial dos seriados norte-americanos para aumentar sua audiência. O SBT já investiu em versões traduzidas de "Supernatural" e "Cold Case", dois seriados de sucesso nos canais de TV a cabo. Supernatural está no início de sua 6ª temporada de gravações. Cold Case já finaliza sua 7ª temporada. Já a Record investiu nos seriados "House" (considerado por alguns como o melhor seriado médico já lançado) e "CSI", sucesso absoluto dentre as séries investigativas.

Minha teoria não possui nenhuma base. É apenas a opinião de um viciado em seriados que vê uma mudança de foco na Rede Globo. Meu palpite é de que a Globo passará a investir em seriados nacionais, com enredos inspirados nos já famosos seriados norte-americanos. Uma tentativa de atrair um público cada vez mais jovem. Uma tentativa de recuperar o público perdido para as TVs a cabo e para a internet (principalmente aqueles que gostam de baixar seriados). A expectativa é de que o façam com qualidade. Se vão recuperar audiência, não faço ideia. Mas, ao menos, teremos mais uma opção gratuita de programação com qualidade.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Todo dia é dia de sexo

Quando me falaram esta noite (após a meia noite, logicamente), no msn, que hoje é dia do sexo, eu tive que dar risada. Tinha acabado de publicar uma crônica aqui no blog quando a amiga Manoela Carvalho pediu: "faz um post sobre o dia do sexo." E aqui estou eu para escrever sobre o tema. Já escrevi, há algumas semanas, algo sobre datas sem sentido. E esse post segue a mesma linha. A verdade é que não vejo razão em criar uma data desse tipo.

Dia do sexo é todo dia, desde que se sinta vontade. Não é preciso criar uma data para se vender mais camisinhas. Dia do sexo pode ser depois do trabalho, ao se chegar em casa, cansado. Pode ser pela manhã, antes de sair. No intervalo do almoço, aquela escapadinha. Pode ser a qualquer hora, em qualquer dia, todos os dias. Criar uma data para isso é desnecessário.

E se você não comemorou o dia do sexo esse ano ainda, se você está empolgado(a) hoje com a expectativa de sair dessa seca braba, é porque as coisas vão mal. Sinto informar que, dia do sexo não é dia de sair da seca. Dia do sexo não é Natal, que você passa esperando um ano inteiro pra receber o presente. Se você, rapaz, tem namorada e não tem "comparecido", tá na hora de criar vergonha na cara. Se você, guria, tem namorado e fica só se fazendo, inventando dores de cabeça e outras desculpas esfarrapadas, hoje é o dia de parar com essa bobajada. Pra quem é solteiro(a), o céu é o limite. Dia do sexo não faz sentido, mas é uma boa oportunidade pra colocarem tudo em dia.

O que vou passar aos meus filhos

Dia desses, conversando com a amiga e colega Vanessa Britto, surgiu o papo sobre "o que passar aos nossos filhos." A Vanessa, espirituosa do jeito que é, disse que seus filhos estarão liberados dos deveres de casa, desde que leiam todos os livros do Harry Potter. Confesso que não consigo pensar em nenhum livro em especial para deixar aos meus filhos. É claro que eles lerão Machado de Assis, de quem sou fã incondicional. Ou melhor, vão dormir ouvindo suas histórias. Se isso não despertar o interesse das crianças, não posso fazer nada, mas ao menos terão o estímulo inicial para despertarem para a leitura.

Mas a herança que meus filhos realmente ganharão de mim é multimídia. São músicas de todos os estilos. Músicas de qualidade. Vão ouvir Charlie Parker, John Coltrane, Miles Davis. Vão ganhar CDs (que provavelmente já estarão em desuso) de grandes nomes do Pop, do Rock, do Samba. Vão conhecer ritmos latinos e música erudita, ainda crianças. E se ainda assim quiserem ouvir Funk ou bandas coloridas, não os proibirei, pois pelo menos terei tentado despertar o gosto pelo que é belo.

Quero guardar DVDs de The Big Bang Theory e de Two and a Half Man para que eles entendam o que é um seriado de humor. Quero que assistam House, Lie to Me e Lost, para entenderem como seriados tão diferentes podem ser igualmente geniais. É provável que seriados melhores surjam até lá. Mas, ainda assim, quero que vejam aquilo que eu julguei genial muito antes de pensar em ter filhos. E mesmo que eles discordem de mim e prefiram algo bem diferente, ainda assim vou ter a certeza de que, ao menos, tentei transmitir a eles aquilo que eu assisti de melhor.

Sobretudo, não espero que eles se apaixonem pelo jornalismo, por animação, por jogos idiotas, por música instrumental. Não espero que eles gostem de fotografar, editar áudio e vídeo. É claro que ficaria bem feliz se eles tivessem interesse por alguma dessas coisas. Mas não é isso que importa. Só espero que eles aprendam a julgar por si mesmos o que tem ou não qualidade, o que é bom ou ruim. Se vão seguir os passos do pai e encarar o louco mundo do jornalismo, isso é papo para outra crônica. Daqui uns vinte anos a gente conversa.

sábado, 4 de setembro de 2010

Os luxos da terceira idade

Todos os idosos merecem alguns luxos. Depois de tantos anos aguentando as chatices da vida, nada mais justo do que um idoso ganhar o direito de ser mal-humorado. Ele merece o poder de colocar a culpa de tudo nos outros, afinal, ele passou tempo demais levando a culpa só para si. Merece contar a mesma história inúmeras vezes, com o mesmo entusiasmo da primeira vez. Ganha o direito de se emocionar facilmente, chorar com um simples "parabéns" no seu aniversário. Sim, ser idoso confere merecidos direitos àqueles que passaram por tantas coisas para nos dar uma vida melhor.

Isso tudo (dentre muitas outras coisas) deveria estar estampado no Estatuto do Idoso. Talvez, evitasse reclamações de filhos e netos que não compreendem essa necessidade da terceira idade. Essa juventude que gosta de dizer apenas que seus pais e/ou avós estão "caducando". Não entendem a beleza da melhor idade. Para muitos desses jovens, o mais fácil mesmo é jogar seus "velhos" em asilos (ou casas geriátricas, se quisermos ser politicamente corretos). A justificativa é sempre a mesma: "é para o seu bem. Lá, vão cuidar de você e te dar a atenção que você merece." E com um aperto no peito, com o sentimento de rejeição ardendo, os senhores e senhoras que educaram e deram de tudo aos seus filhos, partem. Sentem-se um estorvo. Pensam que estão atrapalhando sua prole. Perdem o único direito que realmente tem valor: o de estar perto de sua família.

Não sei quem formulou o Estatuto do Idoso, mas ele deixou pontos importantes de fora. Se eu pudesse, acrescentaria alguns tópicos. Um deles é que todo o idoso tem o dever de se divertir. Sim, dever. Ele deveria ir a centros com atividades esportivas, festas, viagens, tudo pago pelo governo. Ele deveria receber o direito básico de sentir-se jovem em espírito. Sexo não deveria ser um tabu, e a conscientização para exames regulares deveria ser melhor difundida.

Não escrevo esse texto pensando em um idoso em especial. Na verdade, minha inspiração veio do convívio com meus avós, mas é genérico. A única defesa que faço é ao direito deles ficarem mal-humorados, contarem suas histórias repetidas vezes, rirem, chorarem, ou simplesmente estarem próximos à sua família. Faço isso em respeito aos meus avós, na esperança de que, algum dia, meus netos façam isso por mim.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um olhar sobre a realidade

Toda vez que saio à rua, procuro por algo diferente. Deve ser o vício da universidade, aquela velha história sobre o "olhar jornalístico" e a busca pelo inusitado. Mas nos últimos tempos, essa busca deixou de ser por pautas. Tudo o que vejo de estranho me inspira uma crônica. E foi em uma dessas observações que presenciei o seguinte fato.

Era início de tarde. Indo para a Unisc, passei por uma obra, que já faz parte da minha rotina. Uma obra que, normalmente, não me chama a atenção. Mas nesse dia, passei pela construção e resolvi observar aqueles que ali trabalhavam. Foi quando um senhor despertou meu interesse. De pé, ao lado da obra, aparentava já ter passado da faixa dos 70. De óculos, calça e camisa sujas, ficou por alguns segundos parado, observando os demais trabalhadores.

Por instantes, pensei que fosse apenas outro curioso, assim como eu, que estivesse a observar aqueles que ali trabalhavam. Quando o interesse já havia passado e meu rosto se voltava para frente, aquele mesmo senhor abaixou-se para pegar uma pá e se pôs a encher um carrinho de mão com brita. Aquele idoso, com aparência frágil, roupa suja, olhos cansados, estava carregando peso, enchendo um carrinho de mão, trabalhando duro naquela construção. E hoje, enquanto vinha novamente para a Unisc, vi outra vez aquele senhor. Camisa xadrez, aquele mesmo óculos e um boné para proteger a cabeça da leve brisa que caia. O observei por alguns segundos, carregando outra carga de brita para dentro do prédio em construção.

Não sei por quê, mas aqueles breves segundos me marcaram. Talvez, ver aquele senhor ali, trabalhando, tenha me lembrado meu avô, que ainda trabalha. Fico pensando, será que daqui uns dez anos, quando meu avô também tiver na casa dos 70, ele vai estar naquela situação, trabalhando, levantando peso? E meus pais? Será que meu pai estará trabalhando aos 70, ou minha mãe? Não consigo aceitar que a terceira idade perca aquela aura, aquela magia que eu via na infância, quando pensava que meus bisavós eram as pessoas mais felizes do mundo, pois finalmente podiam aproveitar a vida, sem preocupações com trabalho, cuidar de crianças, dinheiro. É frustrante pensar que, talvez, meus pais não tenham esses anos de descanso. Que eles trabalharão até o fim da vida. Que eu não poderei proporcionar o conforto que merecem. Pode ser uma preocupação boba e sem sentido, eu sei. Mas aquele breve instante me fez pensar.

Jovem Foca