quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Repórteres de ar-condicionado

Algo que me intriga e entristece é ver que muitos de meus futuros colegas de profissão tornaram-se preguiçosos e omissos com o passar do tempo. São profissionais que saíram da faculdade com o sonho de mudar o mundo, de fazer um jornalismo diferente, de buscar um olhar diferenciado em cada pauta, mas que deixaram-se engessar pelos modelos ultrapassados ainda praticados nas redações do século 21.

Sempre acreditei que a mudança deve partir de cima, de quem encabeça um órgão de comunicação, e não de um repórter utópico. Direção e editores devem, juntos, estimular a equipe de reportagem a trabalhar em busca de uma informação fundamentada na apuração de todas as nuances de uma história. O jornalismo não deve e não pode se ater a publicações de releases e pautas mal-apuradas via telefone. Mas, infelizmente, é isso que assola grande parte dos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul.

Em geral, a responsabilidade de produzir duas ou três matérias por dia faz com que o repórter deixe escapar princípios básicos de apuração. Por necessidade - afinal, um veículo tem que gerar renda para cobrir seus custos e pagar seus funcionários -, a preocupação em fechar a edição do dia seguinte mostra-se maior do que a com  a qualidade do que será veiculado. O pensamento nos casos mais extremos é: "se errarmos hoje, corrigimos amanhã e seguramos a atenção dos leitores por mais um dia".

Mas, até quando nossos colegas serão submetidos a esse modelo retrógrado de jornalismo, que oferece uma informação superficial e que não leva em conta a necessidade de notícias bem-apuradas e com profundidade? Até quando os interesses pelo lucro dos grandes veículos irá engessar o talento de colegas competentes? Até quando seremos agredidos com pseudo-reportagens cobertas via telefone no conforto do ar-condicionado, enquanto a verdadeira notícia está lá fora, no calor, esperando para ser descoberta por um repórter que se disponha a encontrá-la?Podem defender que "é isso que o povo quer ler". Mas se não lhes dão opções, como eles poderiam clamar por algo diferente?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Orelhas também podem ser polêmicas

Há cerca de nove ou 10 anos tornou-se moda entre os meninos pré-adolescentes o uso de brincos. Ao menos em Santa Catarina, estado no qual residia na época. Eu, então com 11 ou 12 anos, um garotinho gorducho e medroso, fiquei com medo de aderir à moda. De qualquer forma, a coisa evoluiu. De pequenas e discretas pedras a garotada partiu para o uso de argolas - cada dia mais ousadas.

Com o tempo, o ornamento, antes pendurado, começou a profanar as leis de Newton e dividir o mesmo lugar no espaço que a carne de muitas dessas orelhas. São os chamados alargadores, adornos capazes de comprovar o quão fantástica é a capacidade do tecido humano de expandir-se e adaptar-se às mais excêntricas invencões.

Mas quando minha vã filosofia ousou sugerir que não havia nada mais de bizarro a ser inventado para ocupar o lugar de um brinco, eis que vejo uma adaptação: um parafuso atravessado na orelha. Sim, um parafuso! Confesso que foi a primeira vez que vi a surreal adaptação, algo que minha imaginação limitada jamais havia me deixado prever. Só fico pensando: imagina se essa moda pega.

Daqui a pouco teremos lojas de bijuterias com prateleiras inteiras dedicadas a materiais de construção. Imaginem a namorada comprando um pacote de parafusos de presente ao namorado moderninho. Ou o rapaz presenteando a noiva com um lindo conjunto de pregos (de três tamanhos diferentes, porque ela tem três furos em cada orelha). Não seria esse o ponto máximo a que se pode elevar o termo "reciclagem"?

Jovem Foca