domingo, 23 de janeiro de 2011

O velho táxi branco, os cinco picolés e um corte de cabelo

Gostava do tempo em que chegava na rodoviária de Rio Pardo, depois de 9 ou 10 horas de viagem, e via o velho táxi do Beto nos esperando. Um cena clássica. Aquele Uno branco, estacionado na frente de todos os outros carros, apenas esperando por nós. Pensando bem, não sei se era um Uno. Talvez fosse um Mille, que nada mais é do que o mesmo carro, mas com um nome diferente. O Beto nunca aceitava que pagássemos pela corrida. “Deixa que tua vó paga todas as corridas no fim do mês”, dizia ele. Hoje o Beto tem um corsa (ou algo parecido, nunca fui bom com nomes de carros), ar-condicionado, trava elétrica. E como as visitas a Rio Pardo passaram a ser bem mais frequentes, ele não vai mais me esperar na rodoviária.

Sinto falta do tempo em que se comprava 5 picolés com apenas um real. Da época em que jogar bola no meio da rua era normal. As traves eram feitas com havaianas, milimetricamente posicionadas para que nenhum time tivesse vantagem. Após os jogos, beber refrigerante com os amigos sentado no muro de algum vizinho. Ou comprar sacolé – ainda sinto o sabor do de laranja – e sentar no fio da calçada, falando besteira, reclamando das dificuldades da vida de um adolescente e vendo os carros passarem. Mas nada se compara ao carro de picolé passando pela rua. A gurizada com o dinheirinho contado, moedinhas conquistadas com suor, apenas para comprar 5 picolés – aguados e de qualidade duvidosa. Hoje, a brincadeira custa 50% a mais. “Cinco picolés por apenas um e cinquenta”, grita o auto-falante do carro. Mas não soa tão bem quanto soava na minha adolescência.

Até mesmo ir ao barbeiro já não passa a mesma sensação. A barbearia do Renato era arejada com um ventilador velho, tinha edições da 4 Rodas e da Super Interessante de 3 anos antes. Um rádio de pilha, velho, sempre sintonizado na Rádio Rio Pardo. Ir cortar o cabelo era ter a certeza de pagar 5 reais pelo corte e ver sempre as mesmas máquinas, bastante usadas mas sempre confiáveis. Hoje, até ar-condicionado o Renato colocou no pequeno salão. As máquinas não são tão velhas. Tem até uma que se molda à orelha, para cortar melhor. O corte agora custa 6 reais durante a semana e 7 aos sábados. E o Renato, quem diria, voltou a estudar. Me contou ontem, todo faceiro. As coisas mudam tão rápido, nem dá tempo de acompanhar. Só o velho radinho de pilha da barbearia continua, sempre fiel, mesclando notícias da cidade com as velhas canções do Roberto Carlos. Que bom que ao menos algumas continuam sempre iguais.

2 comentários:

  1. Passei por tudo isso e não sinto a menor falta. Enquanto comia picolés baratos, sonhava em comer um Sundae no McDonalds. E 20 anos depois, meus sobrinhos que moram lá, ainda tem o mesmo sonho. Nada mudou.

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