quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Guerra urbana e o prenúncio apocalíptico

Estava escuro. Naquela noite de quarta-feira, em São Paulo, o trânsito era infernal. É claro que não há nenhuma novidade neste fato, a não ser o simples infortúnio de um apagão em larga escala. A falta de eletricidade varreu o país, mas as consequências mais sérias de sua ausência puderam ser sentidas no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Eram 22 horas e 13 minutos quando a pandemia começou. A cena parecia cinematográfica, um prenúncio apocalíptico. São Paulo parou. Hospitais, estradas, postos de gasolina, paradas de ônibus. Aquela que, inicialmente, seria apenas mais uma queda de luz, transformou-se em tragédia.


Transportes públicos pararam de funcionar, hospitais sem geradores tiveram que levar pacientes às pressas para outras instituições de saúde. Milhares de semáforos simplesmente deixaram de operar devido à falta de energia. O trânsito das grandes capitais parecia ainda mais catastrófico. Pessoas, com medo das ruas, abrigavam-se em metrôs, hospitais ou qualquer lugar que tivesse um gerador. O risco era constante. Assaltantes aproveitavam a confusão: furtos, roubos. A violência mostrava sua face mais perversa. Em momentos de crise,união é essencial. Mas há seres humanos sem a menor noção do que isso significa.


Maria Amélia de 50 anos, até então apenas mais uma Maria perdida por este país sem fim, levava uma amiga para casa. Um gesto de solidariedade em meio à tantos outros, retrógrados, que circulavam pela cidade. Mas, por conta de alguns desses seres menos evoluídos, Maria se tornou uma estatística. Por volta da 1 hora da manhã, ela e sua amiga passavam de carro pela região do Jabaquara. Um assaltante, de moto, abordou o veículo. Maria, em desespero, sai em disparada e leva um tiro no pescoço. Apenas mais uma Maria vítima da guerra urbana, da mesquinhez mundana e da irracionalidade humana. Uma Maria, como tantas outras, com uma morte trágica, como tantas outras. Enquanto isso, o Brasil segue singular, com sua completa falta de humanidade.

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