terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Manual do Estagiário - Capítulo IV

O Estagiário e as Relações Políticas

Se estagiário longe do poder já faz merda, imagina quem trabalha diariamente com os governantes, seja na cidade, estado ou mesmo em nível nacional. A verdade é que o pobre estagiário tem o dom de atrair problemas. É verdade que ele tenta fazer tudo certo, da melhor forma possível. Aquela busca incansável por um elogiozinho que seja. Mas, como já ficou bastante claro nos capítulos anteriores, seu chefe não é muito fã de elogios. A única forma de receber um elogio é se você for uma estagiária gostosa. Nesse caso, com certeza, seu chefe a elogiará. E muito. Dará presentes. Oferecerá caronas. Mas depois que cansar de te comer, vai te deixar de lado, como fez com todas as outras.

Mas a questão agora não é quem seu chefe come ou deixa de comer. O fato é que você, estagiário, em sua ânsia de mostrar-se competente, acaba pecando nos detalhes mais sutis. Já falamos aqui, por exemplo, sobre a importância de não falar besteiras no twitter corporativo. Mas teve um estagiário do STF que esqueceu dessa regra, se descuidou, e fez merda. E ele mexeu logo com o Sarney. Já não bastasse o osso, o senador agora não vai largar o pé do pobre estagiário também.

E quem não se lembra do caso do MEC, quando sua assessoria de comunicação ameaçou, via twitter, os alunos que estavam reclamando da incompetência do sistema na realização do ENEM de 2010? Bem coisa de estagiário mesmo. Pelo que sei, estão procurando novos estagiários até hoje. E não fazer piadas em redes sociais é diferencial.

Mas, quando o assunto é política, estagiário não faz burrada apenas pelo twitter. Bem pelo contrário. Tem cidades por aí em que o governo municipal, por exemplo, tenta inibir os jornais locais. Ferem o direito constitucional do acesso à informação. E o que é mais triste é que essa atitude, logicamente, não parte dos estagiários. Ela vem de cima. Você, estagiário, é apenas o capacho que deve obedecer as ordens que vem de cima. Ou isso, ou manda o chefe pra longe e procura outro emprego que pague a mesma merreca que recebe na prefeitura.

É claro que esse foi apenas um exemplo tolo. Afinal, não existem mais cidades no Brasil em que o coronelismo reina. Aquela história de prefeita esposa de ex-prefeito, agora deputado, que elege o filho vereador e depois deputado também e blá blá blá, não passa de besteira. Vivemos em uma democracia e elegemos nossos governantes de forma sensata. Está certo que, vez ou outra, surge um estagiário da prefeitura em comunidades carentes doando roupas, alimentação e medicamentos."E vê se não faz merda, hein? Não deixa ninguém da oposição te ver por lá", são as palavras que martelam na cabeça do estagiário enquanto ele distribui os "agrados" ao povo. A sirene soa. "Mão pra cima, rapá, mão pra cima." Alguém da oposição viu o estagiário e denunciou pra polícia. Afinal, é véspera de eleição municipal. Ainda assim, o atual governo vence. O estagiário tem mérito nisso, mas fica esquecido na cadeia. E que não espere um elogio. Esse "acaso" faz parte de seu trabalho, e ele não fez mais do que sua obrigação.


Para ler o capítulo anterior, clique aqui.
Para ler o primeiro post da série clique neste link.

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