sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Somos hipócritas

Acabei de voltar do almoço. Foi em um desses botecos de esquina, bem fuleiros, do tipo que sempre se encontra próximo à praça central da cidade. O dito almoço não passou de um xis frango com uma coca-cola, uma refeição nada saudável. Quase todas as mesas estavam ocupadas. Nada demais, afinal, estávamos em horário de almoço. Mas, mesmo com a local cheio, algo me chamou a atenção.

Um menino, com seus 9, talvez 10 anos de idade, adentrou o bar. Vestia uma camiseta amarela um pouco rasgada e amarrotada, uma bermuda de tecido fino e chinelos de dedo. O menino, de cabeça raspada e olhar medroso, chegou próximo ao caixa e perguntou: "quanto é um pastel?" A mulher, com um ar de indiferença respondeu: "R$ 2,50". O menino baixou a cabeça e pôs-se a contar as moedinhas que tirara do bolso. O garçom e a garçonete aproximaram-se do balcão, enquanto o garoto, encabulado, descobria se teria dinheiro para comprar seu pastel. Por fim, a mulher do balcão perguntou se ele iria ou não querer o lanche. E com a expressão mais triste que a desilusão pode causar, o menino respondeu que não. Deu as costas e foi-se embora.

E o que realmente entristece nessa história, é que ninguém ali presente demonstrou a menor preocupação com o fato. E quando digo ninguém, me incluo no contexto. O que eu poderia fazer, afinal? Pagar o pastel para o garoto? Garantir uma refeição pra ele sabendo que amanhã ele estará na mesma situação? Na verdade, era exatamente isso que eu deveria ter feito. Certamente não resolveria sua vida. Amanhã (ou hoje mesmo) ele estaria novamente na rua, contando as moeda para poder comprar o que comer. Mas ao menos essa sensação de impotência... pior... essa sensação de conivência, não me perturbaria.

Me entristece pensar que uma criança de 10 anos não pode comer algo tão simples, tão insignificante quanto um pastel, simplesmente por não ter dinheiro suficiente. Enquanto isso, seguimos com nossas preocupações fúteis sobre o novo equipamento tecnológico desnecessário que compraremos no natal. E o pior é saber que essa criança me chamou a atenção, mas tantas outras passaram desapercebidas. Quantas crianças (exatamente como essa), homens, mulheres, idosos, passam todos os dias por nós, nos pedem um pedaço de pão, uma moeda, e nós, do alto de nossa arrogância, apenas fingimos não ver. Me enoja essa filosofia burguesa (da qual faço parte) que prega o capitalismo como centro do mundo; que eleva cada vez mais a necessidade do consumo de futilidades enquanto uma criança não pode simplesmente comer um pastel. Sim, somos hipócritas, todos nós. E minha maior hipocrisia é justamente reclamar disso, mesmo estando inserido na sociedade que desdenho. Sim, sou hipócrita, e vocês também o são. Mas não pude mais segurar isso na garganta. Precisei gritar, mesmo que ninguém mais ouça.

3 comentários:

  1. Não podemos ajudar todos, mas podemos ajudar todos que puder. Parabéns pelo texto. Em Rio Pardo ajudamos o Abrigo Lar Esperança Mary Taranger, é pouco, mas fezemos nossa parte. Infelizmente a vida é assim, essa filosofia é assim o que me deixa muito triste =\

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  2. Obrigado Luana e Ana.
    Realmente não podemos ajudar todo mundo, mas essa inciativa de ajudar o abrigo é muito bacana. Parabéns.
    Abraços

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