domingo, 12 de setembro de 2010

Imprensa e censura em tempos de colônia

A vida no Brasil não era nada fácil. Nas poucas cidades, gente estranha circulando. A escravidão ainda era uma prática comum e significava status. Os índios eram vistos como animais a serem domesticados e a situação do fraco comércio, bem, era fraca mesmo. O ano era 1808, e viver na colônia não era nada empolgante. Mas toda a chatice e monotonia da vida no país estava prestes a acabar.

A família real chegava ao Brasil. Sim, ao Brasil, a colônia devastada e empobrecida, de onde Portugal tirava uma boa parte de suas riquezas. Um país (que ainda não podia ser chamado de país) esquecido pelos colonizadores, mas reconhecido como o único lugar seguro para onde a família real poderia fugir do pequeno Bonaparte, um governante com complexo de inferioridade que tentava compensar sua falta de estatura conquistando outros países.

E é nesse contexto político que surgiu a imprensa no Brasil. Tá, não foi tão simples assim. Naquela época, não bastava apenas ter a ideia e colocá-la em prática. Ela devia passar pela aprovação do império. Foi quando um gaúcho chamado Hipólito José da Costa teve uma ideia. Ele queria fazer um periódico para falar sobre a vida na sociedade, informar aos pouquíssimos cidadãos alfabetizados aquilo que acontecia na colônia e em Portugal. Mas o império sabia que o Hipólito era meio rebelde. O cara não acatava tudo o que o governo dizia. Ao contrário, era questionador, meio encrenqueiro, quase um fanfarrão.

Pois o governo barrou as ideias dele E não só isso: instituiu que nenhum veículo de comunicação poderia ser criado no país, a não ser que pertencesse ao próprio governo. O Hipólito não se conformou. Esbravejou, xingou as mães de metade do império. Mas a decisão estava tomada. Então, como era um inconformado por natureza, gaúcho puro-sangue, resolveu que não queria mais saber do Brasil. Foi pra Inglaterra, terra civilizada, povo educado, primeiro mundo. Mas não passava de uma tática para enganar o governo. Ele não queria apenas morar em outro país. Tudo o que precisava era de um lugar em que pudesse escrever sobre o Brasil, imprimir seus textos e enviá-los ao país.

Assim nasceu, em 1º de junho de 1808, o Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro. O folhetim tinha o tamanho de um livro, falava sobre temas diversos como cultura, política, economia, trazia críticas e notícias. Demorava algumas semanas (cerca de dois ou três meses) para chegar ao Brasil, afinal, o Sedex ainda não havia sido inventado. O único inconveniente da publicação é que ela não era autorizada. É lógico que o primeiro jornal brasileiro só podia ser pirata. Além disso, pouca gente lia, porque pouca gente sabia ler.

Mas se o governo já via o Hipólito José com maus olhos antes da criação do Correio, imagina só o clima quando souberam da existência do jornal. Para não ficar pra trás, o governo resolveu agir imediatamente. Reuniu uma equipe competente (ou quase isso) e criou um outro jornal, esse dentro da legalidade, com apoio do governo, com puxa-saquismo e tudo o mais que se tem direito. Nasceu então, no dia 10 de setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro folhetim oficial do Brasil. As notícias eram chatas, notas sobre eventos da alta sociedade, textos exaltando o império, esses jogos de interesse que vemos até hoje em determinados periódicos. Mas, ao menos, percebia-se o primeiro interesse real do governo por algo que trazia informação à população.

É por isso que 10 de setembro é considerado o dia da imprensa, embora muitos (muitos mesmo) autores discordem da data. O Hipólito José continuou publicando o Correio por um longo tempo (até 1823), mesmo correndo o risco da censura e sabendo que teria concorrência. Alguns especuladores diziam que toda essa história de discórdia entre o gaúcho e o império não passava de joguinho de cena. Que, na verdade, eles tinham um acordo, e que só por isso os impressos de Hipólito José da Costa passavam pelas fronteiras brasileiras. Infelizmente, ele não viveu tempo suficiente para contar sua versão da história.

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