sábado, 4 de setembro de 2010

Os luxos da terceira idade

Todos os idosos merecem alguns luxos. Depois de tantos anos aguentando as chatices da vida, nada mais justo do que um idoso ganhar o direito de ser mal-humorado. Ele merece o poder de colocar a culpa de tudo nos outros, afinal, ele passou tempo demais levando a culpa só para si. Merece contar a mesma história inúmeras vezes, com o mesmo entusiasmo da primeira vez. Ganha o direito de se emocionar facilmente, chorar com um simples "parabéns" no seu aniversário. Sim, ser idoso confere merecidos direitos àqueles que passaram por tantas coisas para nos dar uma vida melhor.

Isso tudo (dentre muitas outras coisas) deveria estar estampado no Estatuto do Idoso. Talvez, evitasse reclamações de filhos e netos que não compreendem essa necessidade da terceira idade. Essa juventude que gosta de dizer apenas que seus pais e/ou avós estão "caducando". Não entendem a beleza da melhor idade. Para muitos desses jovens, o mais fácil mesmo é jogar seus "velhos" em asilos (ou casas geriátricas, se quisermos ser politicamente corretos). A justificativa é sempre a mesma: "é para o seu bem. Lá, vão cuidar de você e te dar a atenção que você merece." E com um aperto no peito, com o sentimento de rejeição ardendo, os senhores e senhoras que educaram e deram de tudo aos seus filhos, partem. Sentem-se um estorvo. Pensam que estão atrapalhando sua prole. Perdem o único direito que realmente tem valor: o de estar perto de sua família.

Não sei quem formulou o Estatuto do Idoso, mas ele deixou pontos importantes de fora. Se eu pudesse, acrescentaria alguns tópicos. Um deles é que todo o idoso tem o dever de se divertir. Sim, dever. Ele deveria ir a centros com atividades esportivas, festas, viagens, tudo pago pelo governo. Ele deveria receber o direito básico de sentir-se jovem em espírito. Sexo não deveria ser um tabu, e a conscientização para exames regulares deveria ser melhor difundida.

Não escrevo esse texto pensando em um idoso em especial. Na verdade, minha inspiração veio do convívio com meus avós, mas é genérico. A única defesa que faço é ao direito deles ficarem mal-humorados, contarem suas histórias repetidas vezes, rirem, chorarem, ou simplesmente estarem próximos à sua família. Faço isso em respeito aos meus avós, na esperança de que, algum dia, meus netos façam isso por mim.

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