quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um olhar sobre a realidade

Toda vez que saio à rua, procuro por algo diferente. Deve ser o vício da universidade, aquela velha história sobre o "olhar jornalístico" e a busca pelo inusitado. Mas nos últimos tempos, essa busca deixou de ser por pautas. Tudo o que vejo de estranho me inspira uma crônica. E foi em uma dessas observações que presenciei o seguinte fato.

Era início de tarde. Indo para a Unisc, passei por uma obra, que já faz parte da minha rotina. Uma obra que, normalmente, não me chama a atenção. Mas nesse dia, passei pela construção e resolvi observar aqueles que ali trabalhavam. Foi quando um senhor despertou meu interesse. De pé, ao lado da obra, aparentava já ter passado da faixa dos 70. De óculos, calça e camisa sujas, ficou por alguns segundos parado, observando os demais trabalhadores.

Por instantes, pensei que fosse apenas outro curioso, assim como eu, que estivesse a observar aqueles que ali trabalhavam. Quando o interesse já havia passado e meu rosto se voltava para frente, aquele mesmo senhor abaixou-se para pegar uma pá e se pôs a encher um carrinho de mão com brita. Aquele idoso, com aparência frágil, roupa suja, olhos cansados, estava carregando peso, enchendo um carrinho de mão, trabalhando duro naquela construção. E hoje, enquanto vinha novamente para a Unisc, vi outra vez aquele senhor. Camisa xadrez, aquele mesmo óculos e um boné para proteger a cabeça da leve brisa que caia. O observei por alguns segundos, carregando outra carga de brita para dentro do prédio em construção.

Não sei por quê, mas aqueles breves segundos me marcaram. Talvez, ver aquele senhor ali, trabalhando, tenha me lembrado meu avô, que ainda trabalha. Fico pensando, será que daqui uns dez anos, quando meu avô também tiver na casa dos 70, ele vai estar naquela situação, trabalhando, levantando peso? E meus pais? Será que meu pai estará trabalhando aos 70, ou minha mãe? Não consigo aceitar que a terceira idade perca aquela aura, aquela magia que eu via na infância, quando pensava que meus bisavós eram as pessoas mais felizes do mundo, pois finalmente podiam aproveitar a vida, sem preocupações com trabalho, cuidar de crianças, dinheiro. É frustrante pensar que, talvez, meus pais não tenham esses anos de descanso. Que eles trabalharão até o fim da vida. Que eu não poderei proporcionar o conforto que merecem. Pode ser uma preocupação boba e sem sentido, eu sei. Mas aquele breve instante me fez pensar.

Um comentário:

Jovem Foca