terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Revista Época e a função social do jornalismo

Mais do que uma profissão que visa o lucro, devemos entender o jornalismo como uma categoria que possui um papel definido na sociedade. É claro que o conteúdo é um produto, comercializado, tratado e vendido. Mas isso não significa que deva ser baseado em mentiras, especulações e achismos. Pelo contrário. A boa reputação (e aceitação) de um veículo depende da qualidade (e veracidade) do conteúdo que se publica.

Nesse contexto, podemos pensar no papel do jornalismo na sociedade através de situações cotidianas, como as reclamações de ruas esburacadas, de falta de água, de constantes quedas de luz. Mas também podemos visualizar esta função social em situações mais graves, cujo desenvolvimento pode afetar um país inteiro.

Um exemplo típico e incontestável é o caso Watergate. O escândalo político que abalou os Estados Unidos na década de 70 é o mais claro exemplo do poder que o jornalismo possui de denunciar à sociedade aquilo que está errado. Não é à toa que criou-se o hábito de chamar o jornalismo de o 4º poder - o responsável por fiscalizar os três poderes já constitucionalmente estabelecidos.

E é com esse ideia de denúncia e fiscalização que vejo a reportagem "O homem que processou o Brasil", publicada na revista Época. O texto, escrito por Mariana Sanches, poderia muito bem ser um roteiro de cinema. Mas é vida real. A história de Wolf Gruenberg é tão absurda que seria difícil de acreditar mesmo que fosse ficção.

Segundo Gruenberg, em 1977 sua empresa recebeu um calote de uma empresa de capital misto. O Banco do Brasil seria o responsável pela empresa em questão e o encarregado de pagar a Wolf o valor de pouco mais de US$ 1 milhão, conforme estipulado em justiça. O empresário afirma ter recebido apenas 10% deste valor.

Outro processo se arrastou na justiça por mais de 15 anos, até que a empresa devedora foi absorvida pela União. Nesta época, com juros e indenização pelos prejuízos causados, a dívida estava entre 40 e 50 milhões de dólares.

Em 1999, 22 anos após a início da briga jurídica, a União acusa Wolf de cobrança indevida por uma dívida, segundo ela, já quitada. Mas em 2004, 27 anos após a entrada na justiça, o juiz responsável pelo caso julgou que a União devia mais de 1 bilhão de reais a Gruenberg.

A União apelou da decisão, alegando que o valor da dívida não passava de R$ 48 milhões. No mesmo período o Ministério Público e a Polícia Federal começaram uma investigação com suspeita de que Wolf estivesse tentando ludibriar a justiça brasileira.

Na manhã do dia 11 de julho de 2008, policiais armados invadiram a casa de Wolf, em Porto Alegre, e levaram ele e a esposa sob custódia. Fora acusado de chefiar uma quadrilha que arquitetou um esquema bilionário de fraudes contra a União. Na época, Gruenberg estava em tratamento contra um câncer, e afirma que passou 150 dias (preso) sem poder conclui-lo.

Mas algo pior ainda ocorreu com sua esposa. Poucos dias antes ela havia passado por uma delicada cirurgia para redução das mamas. Com a prisão, foi colocada em uma cela sem cuidados médicos. Contraiu uma infecção neste período que deixou seus seios purulentos. Foi levada ao hospital Moinhos de Vento e ficou na UTI, com os pés algemados.

Gruenberg agora tenta provar sua inocência, briga receber o que a União lhe deve e para ser indenizado pela forma desumana como diz ter sido tratado na prisão. Mas agora ele que ir além. Mais do que dinheiro, ele busca justiça. Quer levar seu caso às Nações Unidas e fazer com que seja exemplo dos abusos cometidos pelo Estado.

O capítulo final dessa história ainda está sendo escrito. Mas confesso que fiquei atônito ao ler algo tão irreal e surpreendente. Mais do que uma boa história, o exemplo que a Época nos traz é de que é dever do jornalista denunciar esse tipo de situação. É função do jornalista alertar a sociedade para práticas como esta.

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