quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Jornalismo em quadrinhos: um formato alternativo de comunicação

Existe jornalismo para além das palavras ditas e escritas, para além dos mecanismos convencionais e do formato padrão ao qual estamos habituados. E um exemplo claro disso pode ser encontrado no Catraca Livre.

Para quem não conhece, o Catraca Livre é um projeto jornalístico com foco cultural desenvolvido por estudantes universitários de São Paulo com colaboração do jornalista Gilberto Dimenstein, um dos mais premiados jornalistas brasileiros. Para além do jornalismo tradicional - e foi isso que me chamou a atenção -, o projeto busca formas diferentes de comunicação. E a que destaco neste post é a reportagem em quadrinhos.

Acredito que o jornalismo em quadrinhos é uma das formas mais puras e divertidas de tratar uma informação. É algo que tem o poder de surpreender, de prender o leitor, de informar e esclarecer com um risco menor de ambiguidades do que em qualquer outro formato. Mas, infelizmente, também é um formato pouco valorizado e (pasmem!) com pouca credibilidade por parte do "leitor comum". Isso porque, aqui no Brasil, ainda se cultiva a ideia (errônea) de que desenhos, cartoons, quadrinhos e afins são formas menores de se transmitir uma mensagem.


Ainda assim, é possível encontrar no Brasil algumas experiências de reportagem em quadrinhos muito interessantes. E uma das que destaco é esta reportagem especial para homenagear o centenário de Nelson Cavaquinho. As doze páginas, com texto de André Carvalho e arte de Alexandre de Maio, trazem falas de Nelson ditas em várias entrevistas ao longo de sua vida. Além da obra visual, ainda é possível ouvir a voz do compositor e uma de suas canções.

Mas antes de entrar no mérito de outros trabalhos do gênero na país, é interessante lembrarmos que jornalismo em quadrinhos não é nenhuma novidade. Desde o século XVIII, quando o cartunista italiano Angelo Agostini chegou ao Brasil, que os jornais nacionais contam com tiras e ilustrações em suas páginas. Foi nas páginas dos jornais que as histórias em quadrinhos se desenvolveram até migrarem para produções independentes.

Maus - Pulitzer de 1992


Dentre os principais expoentes deste tipo de obra, podemos destacar Art Spiegelman. O Sueco de 64 anos é o único autor de quadrinhos que ganhou um prêmio Pulitzer - principal premiação do jornalismo norte-americano. Na década de 90, atuou produzindo charges, ilustrações e as capas da revista The New Yorker.

Outro repórter de quadrinhos renomado é Joe Sacco. Natural da República de Malta, mudou-se ainda jovem para os Estados Unidos, onde formou-se em jornalismo. Resolveu unir à paixão seu talento para o desenho. Nesse sentido, realizou importantes coberturas apurando as informações com o rigor jornalístico, mas trabalhando a reportagem com seu talento para os quadrinhos.  Dentre seus principais trabalhos está "Notas sobre Gaza", reportagem sobre os conflitos entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza.

No Brasil, em 2007, três jornalistas baianos fizeram uma experiência diferente em seu TCC. Resolveram fazer uma grande reportagem em quadrinhos sobre o movimento estudantil baiano. Para isso, contaram ainda com a ajuda de dois ilustradores e um designer, responsável pela diagramação dos quadrinhos. Em 30 páginas, a reportagem "Vanguarda: Histórias do Movimento Estudantil da Bahia" conta fatos importantes que ocorreram de 1942 a 2003.

Infelizmente, experiências jornalísticas como Vanguarda e os quadrinhos do Catraca Livre ainda são exceções. Vemos tiras, charges, cartoons, caricaturas, mas temos pouquíssimos jornalistas dedicados a trabalhar reportagem propriamente dita em uma mídia alternativa. Talvez exista ainda um certo receio por parte dos veículos em apostar em ago tão ousado. Ou talvez, não se tenha profissionais disponíveis no mercado. Neste caso, que se criem cursos e especializações. E que experiências como estas não se resumam a trabalhos acadêmicos. A minha esperança é que as mentalidades mudem, que não se veja o jornalismo em quadrinhos como algo trabalhoso e pouco rentável, mas sim como uma solução atrativa para conquistar os leitores mais jovens e surpreender os mais velhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jovem Foca