quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sobre os exageros do caso Eloá

Hoje, 16 de fevereiro, foi o último dia de julgamento de Lindenberg Alves Fernandes (25), algoz do caso Eloá. Você provavelmente acompanhou a repercussão do julgamento na TV, nos jornais ou na internet, querendo ou não. O caso, que ganhou os holofotes em 2008 (quando Lindenberg invadiu a casa da ex-namorada, a manteve refém por quase 100 horas e a matou quando a polícia invadiu o local), finalmente teve seu desfecho.

Lindenberg Alves Fernandes
Junto com o julgamento, ressurgiram críticas feitas na época à policia (e sua demora em agir) e à mídia (a forma como o caso foi tratado durante as 100 horas de cárcere). Posteriormente o caso foi narrado no livro "A tragédia de Eloá: uma sucessão de erros", do jornalista Márcio Campos. Na obra, o jornalista mineiro conta os primórdios dessa história - o namoro entre uma menina de 12 anos com um rapaz de 19; o ciúme doentio do namorado; as constantes brigas e términos; as ameaças e a violência.

Durante o julgamento, Ana Lúcia Assad, advogada de Lindenberg, usou como estratégia de defesa o argumento de que a imprensa e a polícia tiveram papel decisivo no desfecho do caso. A polícia pela demora em agir, por tratar o ex-namorado de Eloá como um Romeu arrependido, e não como um rapaz violento capaz de matar, e também por ter permitido que Nayara, amiga da vítima que estava na casa no momento do sequestro e foi solta durante as negociações, voltasse para o cárcere.

Já a mídia, segundo a advogada, contribuiu para que o caso terminasse em tragédia pela forma como repercutiu o fato, entrevistando o rapaz durante o sequestro, dando a visibilidade que ele desejava em mídia nacional. A forma como os veículos de comunicação agiram, não apenas reportando os fatos, mas também agindo de forma a participar destes, pode ter sido decisiva para que o sequestro se transformasse em homicídio. Ao menos, foi isso que sustentou a advogada.

Mas mesmo com toda a argumentação, Lindenberg foi condenado. A pena é de 98 anos e 10 meses. Considerando o fato de ele ser réu primário, acredito que ficará preso em regime fechado por pouco mais de 39 anos (2/5 da pena). Isto é, se tiver bom comportamento. Sua advogada foi considerada por muitos como a grande vilã do julgamento, e foi hostilizada durante os 4 dias de tribunal. Mas não creio que ela possa ser culpada.

Ana Lúcia Assad ao lado de Lindenberg
Pela Constituição, todo mundo tem direito a defesa - mesmo sequestradores, assassinos e pedófilos (embora eu acredite que, se a pena de morte deve ser aplicada em alguém, esse alguém é o pedófilo). O fato é que a advogada estava cumprindo seu papel, tentando defender o rapaz e minimizar sua culpa. Talvez por acreditar que todo homem merece um julgamento digno, com uma defesa justa. Talvez por crer que essa era a oportunidade perfeita para mostrar, em rede nacional, a eficácia do seu trabalho enquanto advogada. Ou talvez - e eu acredito que esse seja o real motivo - porque ela realmente acreditava que o desfecho trágico do sequestro foi fortemente influenciado pela ação tardia da polícia e pelos exageros da imprensa.

Quem acompanhou o caso em 2008 deve lembrar que, por diversas vezes, Lindenberg esteve na mira da polícia, mas ninguém tinha autorização para atirar. Não sou nenhum especialista em segurança, mas posso especular. A sensação que ficava ao ligar a televisão era de que algo daria errado. A polícia negociava, a imprensa criticava a demora da polícia em agir, o público acompanhava o caso torcendo por um final feliz.

Sabe-se que alguns jornalistas fizeram contato com o rapaz enquanto ele mantinha a ex-namorada em cativeiro. Mas, como saber se esses contatos influenciaram, direta ou indiretamente, a mentalidade perturbada de Lindenberg? Questiono-me qual será o limite para o envolvimento dos jornalistas em um caso como este. Até onde se deve ir em uma pauta? Até onde se PODE ir sem influenciar nos fatos?

Eu, particularmente, não acredito que o caso teria outro desfecho se a postura da imprensa fosse diferente. Mas os anos de estudo me ensinaram que as respostas para essas questões não está na subjetividade. Não é o tipo de coisa que se aprende numa faculdade. É claro que somos preparados para diversas situações durante a academia. Mas ensinamentos desse tipo se ganha, sobretudo, com a vivência nas redações.

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